7•
Com o mesmo respeito com que se chegou, deixa-se a casa de religião. Finda a sessão coletiva de caridade, ou ao final de qualquer visita a uma casa de religião, repete-se o gesto da chegada. Vai-se até o “Peji dos Barás”, toca-se de preferência a porta e diz-se: “salve meus pais, acompanhem meus passos e sigam-me em meus caminhos”.
Essa despedida feita com respeito e muita convicção, garante que os fiéis tenham a proteção dos orixás da casa, em todos os dias de suas vidas e em todos os lugares, de bem, a que chegarem. Mais: o nome no livro de presenças garante que, em todos os “Trabalhos espirituais do centro”, a proteção se estenda a tantos quantos uma vez na casa tenham estado, pelo prazo de vinte e um dias, quarenta e cinco dias, ou ainda, noventa dias.
Quanto ao aspecto emocional, de volta para casa, não pode haver qualquer sentimento de medo ou outra aflição que possa fazer mal às pessoas. Afinal, já se disse que o candomblé não trabalha para o mal, senão e apenas para o bem. Assim, o sentimento que deve predominar é o da tranqüilidade, da concentração, da fé naquilo que se pediu. Ainda: as casas de religião são associadas, normalmente, a bruxarias, a histerismos e a encenações de toda ordem. Sem entrar no mérito, limitamo-nos a dizer que, na nossa, nada disso acontece. O candomblé é forte, pois trabalha somente com espírito de luz e apenas para o bem, e é discreto, pois se fundamenta no silêncio, no respeito aos deuses e na fé das pessoas. Exceto em dias de “batuque”, quando os filhos-de-santo incorporam suas “entidades” e, ao natural, passam a girar e comportarem-se como se as “entidades” o fossem, a assistência não tem contato com qualquer gesto ou atitude ligados ao sobrenatural. O trabalho com as “entidades” é feito pelo Ministro espiritual, babalorixá, ou pai-de-santo e pela sua corrente mediúnica, algumas vezes, após as sessões, ou somente em dias de festas. Durante a realização desse ritual, o que se passa às pessoas que na casa estiveram é o sentimento de paz, de bem-estar, de tranqüilidade, tudo simbolizado no “despacho dos ecós”.
Portanto, a saída deve ser revestida da mesma expectativa da chegada. Antes havia a ânsia pelos pedidos; depois de haver a ânsia pelo recebimento das graças. Então, e por lógico, não pode existir acomodação do espírito. Pedir e aguardar milagres dos santos são como não pedir. Todos os dias, em todas as horas do dia, deve-se renovar a fé naquilo que se buscou. Finalmente: deixa-se a casa de religião como nela se chegou. Saúdam-se os Barás, pedindo-lhes proteção e acompanhamento, e volta-se para casa envolvido em profundo sentimento de paz, de tranqüilidade e de esperança.
|